Javier Morales: Caminhar com Gary Snyder e outros poetas “é um grito contra as mudanças climáticas e pela sobrevivência da vida”.

Por Natalia Sagredo
Madri, 29 de outubro (EFEverde) - Em seu novo livro "Caminhando com Gary Snyder e outros poetas" (Tundra), Javier Morales medita sobre "uma vida circular, onde os humanos nascem e retornam à terra" como uma espécie de caminhada circular pelas paisagens em transformação de Cercedilla, na Serra de Guadarrama.
Formado em Jornalismo e com vasta experiência como professor de escrita criativa, Morales embarca em uma nova proposta literária ligada à natureza, que precede alguns de seus livros, como "O dia em que parei de comer animais", "Trabalhar é cansativo" ou "A moeda de Carver".
Diferentemente de alguns de seus outros livros de ensaios, nesta ocasião Morales “não tinha uma ideia prévia” do que queria dizer e o resultado é “um livro em construção”.
Após inúmeras caminhadas até Cercedilla, com um livro na mochila, "Caminhando com Gary Snyder e Outros Poetas" acaba se tornando uma crítica "ao desenvolvimento urbano desenfreado que está destruindo a Serra de Guadarrama". Seu livro é "um grito contra as mudanças climáticas e pela sobrevivência da vida".
Caminhadas circulares
Morales é claro quanto à sua busca por "algo reconfortante; uma caminhada meditativa, equiparando caminhar a pensar".
A cada viagem a Cercedilla, o autor “anotava suas impressões, observando como via o percurso, como a paisagem havia mudado e os livros que lia”. Ele reflete sobre “como, à medida que continuava indo a Cercedilla, o próprio livro se enriquecia”.
Ele diz que “a cada caminhada, a pessoa sai transformada, se tiver algum tipo de conexão com a floresta”, porque “a cada dia que passa, o tom muda e os pássaros cantam de uma maneira diferente”.
Snyder como núcleoO jornalista e escritor gosta de incorporar poetas em seus textos. Como o título sugere, Gary Snyder se torna uma figura central neste ensaio, sendo um pioneiro da ecopoesia, e destacando "sua sensibilidade e consciência da degradação ambiental".
Além de Snyder, abundam diversas referências poéticas. Morales incorpora a visão de Arne Naess, um filósofo norueguês que baseia sua corrente ideológica na “ideia de que todos os seres vivos, incluindo os não humanos, são independentes; banindo o antropocentrismo e colocando todos os seres vivos na base da pirâmide, em igualdade de condições”.
Morales escolhe Naess como ponto de referência devido à sua influência na representação de “um lugar de repouso onde se pode ler e encontrar a si mesmo”. No entanto, ela também inclui outros modelos como Mary Oliver, Jorge Risman e Robin Kimmerer.
Apesar de sua ampla seleção de autores diferentes, Morales escolhe usar a figura de Gary Snyder porque acredita que ele "simboliza muitas correntes com as quais concorda" e destaca "a ideia de que devemos ser humildes e nos relacionar com a natureza, entendendo que os seres vivos estão em pé de igualdade neste planeta".
Poesia para se aproximar do mundoCaminhar com Gary Snyder e outros poetas “é uma sucessão de camadas. Como se cada caminhada fosse uma camada adicionada a outra”. O autor admite que sua essência é “uma visão geral de suas caminhadas por Cercedilla e não tanto de um dia específico”.
Para Morales, a poesia, “em termos muito amplos, é quase como rezar. É como uma espécie de consolo, um refúgio onde se pode reconciliar consigo mesmo e com o que se vê”. Ele acredita que “não podemos ignorar nossa relação com a natureza, da qual fazemos parte”.
Segundo o escritor, a poesia serve "para vermos nossa relação com os seres vivos sob uma nova perspectiva, nosso papel no mundo, e também como fonte de consolo, além de ser uma elegia". Ele enfatiza que "ela nos permite descobrir a beleza do mundo e o que significa o desaparecimento".
Ode à NaturezaCaminhar com Gary Snyder e outros poetas é dividido em duas estações: outono e primavera. Essa ideia deriva de sua predileção por imaginar que “as estações estruturam a vida”, onde “a vida é como as estações, com a primavera e o outono representando a maturidade e o inverno representando a velhice”.
Com seu livro de ensaios, Morales presta homenagem à natureza e à urgência de ações diante das mudanças climáticas.
O autor mergulha nas palavras de vários filósofos e poetas, relatando suas frequentes caminhadas até Cercedilla, explorando a complexidade da natureza e os danos infligidos pela humanidade. Morales concebe seu livro como “uma consolação”, mas com a necessidade urgente de “despertar a consciência crítica”. EFEverde
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